Complexos têm atuação humanitária com a oferta de atividades culturais e desportivas voltadas às crianças e adolescentes.

Foto: Bruno Cecim / Ag.Pará

No mundo contemporâneo, onde o tempo gasto diante das telas digitais se tornou uma realidade alarmante, iniciativas presenciais que buscam preservar a saúde mental e a alegria na infância ganham um valor inestimável para a sociedade como um todo. No Dia da Conscientização do Suicídio Infantil, 10 de setembro, o papel das Usinas da Paz revela sua importância nesse contexto. Esses complexos humanitários fazem parte do programa estadual Territórios Pela Paz (TerPaz), iniciativa elaborada pelo Governo do Pará e coordenada pela Secretaria Estratégica de Articulação da Cidadania (Seac).

O aumento da presença de telas, como smartphones, tablets e Smart TV, nos lares brasileiros impacta no comportamento de crianças e adolescentes em todo o país. Estudos, especialistas e instituições têm observado uma crescente dependência da tecnologia na rotina desses grupos. Os recursos são utilizados como entretenimento, substituindo atividades físicas e até mesmo o contato com pessoas da mesma idade.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população brasileira passa mais de 90 horas por semana conectada, o que equivale a quatro dias inteiros. Essa estatística revela a necessidade de intervenções adequadas.

Foto: Marco Santos / Ag. Pará

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) também alerta sobre os malefícios do uso excessivo de telas, listando problemas de saúde mental, transtornos psiquiátricos, transtornos alimentares, sedentarismo, transtornos da imagem corporal, transtornos posturais e músculoesqueléticos, e problemas auditivos como preocupações graves.

Para compreender melhor os desafios que as telas eletrônicas impõem às crianças, a psicóloga da UsiPaz Guamá, Lenamaria Furtado, destacou a relação entre o uso excessivo de dispositivos e a depressão:

"Uma das sensações que as telas trazem é que você não está acompanhado, apesar de ter outras pessoas interagindo. Por não ter contato físico e estar junto, pode provocar sinais como ficar distante, só querer conversar através dessa tela, como se fosse uma linguagem, desenvolvendo, assim, irritabilidade, problema de sono, compulsão alimentar ou anorexia, distúrbios de humor, e podendo levar a algo mais grave”, ressaltou a psicóloga. 

Foto: Alex Ribeiro / Ag. Pará

A especialista reforça ainda a necessidade da presença dos pais e da autoridade deles, limitando o tempo de tela. “Muitas vezes os próprios pais não conseguem limitar, porque tem dependência nesses aparelhos. Afinal, existe um vício nas telas por conta do prazer dos ‘likes’, por exemplo. A solução, neste caso, é dar alternativas de sociabilização e interação para que tenham outras fontes de prazer e recompensa”, complementou. 

Transformação – Regina Durão, mãe de Letícia, que frequenta a aula de balé na Usina da Paz Prof. Amintas Pinheiro, em Ananindeua, inicialmente recebeu um pré-diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) devido à dificuldade da criança em socializar. Entretanto, após um ano, essa hipótese foi descartada quando ela demonstrou melhorias significativas, incluindo a capacidade de memorizar os passos de dança, interagir com outras crianças e desenvolver gosto pela participação na Usina da Paz.

"Ela é meu orgulho", disse Regina, que também faz cursos na UsiPaz e já teve um aumento significativo de renda graças ao que aprendeu. "A Usina da Paz trouxe atividades como Colônia de Férias, cinema, teatro e brinquedoteca, tornando a infância das crianças mais saudável. Além disso, eles organizam eventos especialmente pensados para nossas crianças, proporcionando interações reais e mantendo-as afastadas das telas”, complementou.

Foto: Bruno Cecim / Ag.Pará

Já Dayane Duarte encontrou no complexo uma excelente maneira de resgatar a infância das três filhas. Ela é mãe de Maria Isabelly, Sara Sophie e Alyssa Ester, todas praticantes de balé na Usina da Paz Antônia Corrêa, em Marituba.

A mãe avalia a importância de oferecer às crianças opções de lazer fora das telas, ao mesmo tempo em que reconhece a necessidade da tecnologia na nova geração. Ela contou que a Usina da Paz proporciona momentos de qualidade em família, com atividades como o parquinho, em que as crianças brincam em balanços e escorregadores, além de incentivar interações sociais presenciais.

Duarte comemora também a melhora no desempenho escolar da filha Maria Isabelly após ter acesso às consultas em psicologia oferecidas na Usina da Paz de Marituba.

Foto: Bruno Cecim / Ag.Pará

“Ela tinha dificuldade de socialização, por ter o raciocínio acelerado e não conseguir acompanhar um ritmo mais lento de aprendizado, conforme a idade dela. Após a terapia, minha filha melhorou uns 90%. Além disso, consegue se expressar melhor e dividir o seu tempo entre o celular, a leitura e as atividades da Usina da Paz. Agora ela ajuda os colegas que têm dificuldade na escola, conseguindo expandir o conhecimento, sem afetar na sua aprendizagem”, disse orgulhosa, Dayane. 

Serviços – As Usinas são complexos de promoção da cidadania, com espaços para crianças e adolescentes, oferecendo atividades esportivas, danças, reforço escolar, cursos educativos, biblioteca repleta de livros voltado ao público infantojuvenil, como romances, histórias em quadrinhos (HQs), literatura paraense e nacional, brinquedoteca com atividades lúdicas voltadas para crianças, eventos de cultura nerd e geek e um espaço para playground infantil, equipado com balanço, escorregadores e gangorras.

O espaço também disponibiliza consultas com psicólogos e médicos, que podem ser agendadas no prédio da assistência, localizado na Usina da Paz mais próxima. Para agendar, é necessário levar original e cópia da carteira de identidade (RG), CPF e Cartão do Sistema Único de Saúde (SUS).

Texto: Aline Seabra (SEAC)